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domingo, 30 de outubro de 2011

Montillo:Não posso ficar chorando

Há explicação para uma queda de rendimento tão grande de um time que começou o ano como o melhor das Américas, com uma campanha sensacional na primeira fase da Libertadores, e agora luta contra o rebaixamento?
ESPECIAl Montillo cruzeiro esposa ao lado do filho santino (Foto: Valeska Silva / Globoesporte.com)Montillo ao lado do filho Santino e da esposa
Não tem explicação. Procuramos durante todo o ano e não conseguimos. Sabemos que saíram vários jogadores importantes, outros machucaram... Foi difícil para o Cruzeiro jogar duas ou três partidas com o mesmo time no Brasileiro. E quando entra um cara que está em outro ritmo muda muito. Vamos arrumando poucas peças. Agora, ter que mudar sempre quatro ou cinco é muito. Não que quem esteja fora seja pior, mas pela arrumação mesmo. Perdemos o Gil, o Thiago Ribeiro, o Wallyson... São todos muito importantes. Mas não é uma desculpa. Caímos porque não jogamos bem. Vamos fugir dessa realidade. Às vezes, time grande tem que passar por momentos ruins para saber como funciona. O River caiu na Argentina e nunca tinha caído. Como já disse, o futebol está parelho, ninguém ganha só com a camisa.
A eliminação para o Once Caldas, nas oitavas de final da Libertadores, foi o ponto determinante? O time não conseguiu se              recompor?
Pode ser, mas isso não pode ficar na cabeça por seis, sete meses. Pode até ficar por uma semana, duas partidas, mas não acho que seja por isso que caiu o rendimento. Fizemos uma partida ruim, já falamos muito sobre isso, mas já foi. Na outra semana, fomos campeões do Mineiro. Parecia que íamos reagir. Só que o Brasileiro não foi regular. Faltam seis finais e não podemos pensar no que ficou para trás.
Nessa luta contra a queda para Série B, você, que é o principal jogador, garante a permanência na Série A?
Eu não sou bruxo para garantir. Mas podemos garantir que vamos fazer de tudo para isso. Se Deus quiser e os placares forem bons para nós, vamos pensar na Sul-Americana. Temos que pensar sempre para cima, não para baixo. A realidade nos faz olhar para as duas situações, mas sou otimista e olho para Sul-Americana. É preciso pensar assim.
Você não é bruxo para prever resultados e garantir a permanência na Série A, mas e a sua permanência no Cruzeiro em 2012? Isso você pode decidir e falar.
No momento, fico, sim. Tudo que falaram de Corinthians e outros times até agora é só coisa de imprensa. Ninguém me ligou para falar que conta comigo no ano que vem. Penso dia a dia. Não sei o que vai acontecer depois de dezembro. Vou jogar todos os jogos que faltam, me entregar em campo e estou muito bem aqui. Depois, não sei o que vai acontecer. Estou tranquilo e disposto a fazer as coisas bem.
Seu plano de carreira é ficar no Brasil ou é a hora de realizar o sonho de jogar na Europa?
Meu sonho sempre foi jogar em time grande. Tive a sorte de realizar no Chile, na Argentina, aqui no Brasil... Já tive a oportunidade de ir para o Palermo (ITA), mas os números não foram suficientes para o Cruzeiro e estou tranquilo. Não tenho pressa para ir embora. Minha família está bem em Belo Horizonte e não gosto de mudar o tempo todo. Lógico que pode vir um time grande de fora e fazer um negócio bom para o Cruzeiro, para mim, para minha família. Aí, vou pensar. Mas estou bem aqui. A cidade é boa para morar, as pessoas são boas para mim, para minha família.
Então ir para Europa não é uma obsessão?
Às vezes, pensamos em sair para Europa, para um grande, de olho na seleção. Aqui na América, é mais difícil. Mas jogando aqui no Brasil eu tive essa oportunidade. Então, estou tranquilo. Não estou desesperado para sair. Vou seguir trabalhando, fazendo o melhor. O futebol muda muito de um dia para o outro. O cara é o melhor hoje e no outro dia é o pior. Tenho que pensar em ajudar o Cruzeiro.
Muitos argentinos já passaram pelo Brasil e mantêm o estilo reservado, a cultura local, entre outras coisas. Você já tem outro perfil: adotou o moicano do Neymar, dança axé nas comemorações, faz como se estivesse andando a cavalo, fala muito bem o português. Já virou meio brasileiro?
Estou virando mineiro, né? (risos). Falar, eu tenho que falar. Estou aqui todos os dias, convivo com o pessoal e é preciso. Gosto de aprender sempre. Sei que tenho muito a melhorar, mas dá para compreender. Sobre o cabelo, tinha que mudar, era necessário fazer alguma coisa. Todo mundo falava que estava ruim. Não está bom, mas ficou um pouco melhor (risos).
E sobre as danças? Realmente curte axé, música brasileira...
Agora, estou gostando mais de sertanejo, né? É o que todos gostam, todos escutam. Já a dança saiu de uma concentração, bebendo chimarrão com o Ortigoza e o Naldo no quarto. Acabou que o gol saiu e eu dancei. Eles continuaram, e eu segui dançando. Mas agora o cavalo está parado, né? Faz tempo que não dou uma galopada (risos).
Essa galopada, por sinal, já virou uma marca. De onde surgiu?
Não tem muita explicação. Era de um jogo de vídeo game que eu brincava com o Victorino ainda na Universidad de Chile. Estava falando com ele pelo telefone, disse que ia fazer um gol e ele pediu para fazer a comemoração. Continuei e virou marca. Tem até boneco. Não posso parar mais.
Você falou que já curte música brasileira. Quais são suas preferências aqui no Brasil? Música, comida...
Quando eu cheguei, só conhecia a Ivete Sangalo. Eu e minha família gostamos muito. Agora, também escutamos Jorge e Mateus, Gustavo Lima... Sobre comida, são muitas boas. Nunca tinha experimentado o feijão tropeiro, e agora gosto bastante. Por isso, falo que estou virando mineiro.
A próxima partida do Cruzeiro é justamente contra o Flamengo, um adversário que você ficou marcado por realizar boas partidas. Foi quando você apareceu para o Brasil, na Libertadores de 2010. É um rival especial?
Fiquei como carrasco por conta do gol da eliminação nas quartas de final da Libertadores do ano passado. Quando cheguei, todo mundo falava isso. Aí, no Brasileiro, ganhamos as duas partidas. Acho que isso marcou. Mas é um jogo a mais. Respeito muito o Flamengo, que é muito grande. Jogo como sempre jogo. Não vou melhor por ser contra eles. É um adversário que temos que respeitar, que tem um dos melhores jogadores do Brasil, o Ronaldinho. Marcou por ser algo difícil para Universidad de Chile, contra um Flamengo com Adriano, Vágner Love, Léo Moura.
Inclusive, antes de acertar com o Cruzeiro, sua contratação foi dada praticamente como certa pelo Flamengo. O que aconteceu para que desse errado?
Nunca disse que não queria jogar no Flamengo. Estava tudo certo, mas eles não tinham ou não quiseram colocar o dinheiro"
Montillo
A torcida acha que eu não quis jogar lá, mas o problema foi que o clube não quis colocar o dinheiro para La U. Sempre disse que dependia da liberação deles. Não posso passar por cima. O Flamengo queria trocar por um jogador, a Universidad não aceitou, e o Cruzeiro fez o investimento. Nunca disse que não queria jogar no Flamengo. Estava tudo certo, mas eles não tinham ou não quiseram colocar o dinheiro.
Eu queria que você falasse também sobre a sua história com seu filho, Santino, de um ano, que precisou passar por cirurgias esse ano. É algo que você consegue separar bem ou interfere no dia a dia de trabalho? Como lidar com isso tudo?
É muito difícil. Agora, que tudo está tranquilo e ele está em casa, posso falar que é muito difícil separar o meu filho do futebol. Sempre falo com minha família, com minha mulher, que fica com ele o tempo todo, que tenho que continuar trabalhando, mas também é difícil viajar, concentrar, e deixá-lo no hospital. Com a ajuda de vocês (jornalistas), do torcedor, dos companheiros, continuo a vir treinar com alegria, com sorriso, porque não posso misturar. Todo mundo tem problema com um parente, com alguém que ama muito. Eu tenho com meu filho e não posso fugir disso. Se eu ficar em casa chorando e deixar o futebol de lado... Com as quatro cirurgias que ele fez, com tantas internações, não poderia jogar. Tenho que seguir trabalhando e ficar com ele. Minha mulher também entende assim. Mas é difícil. É um filho. Tenho outro filho maior e só com uma gripe fico louco. Imagina com cirurgia, na UTI, tendo que ficar no hospital. É difícil. Já dormi em sofá.... Não gosto de colocar desculpas. Posso vir aqui, treinar, jogar bem ou mal, mas não vai ser uma desculpa para eu ficar fora. A cabeça estava bem, o torcedor ajudando e o treinador também. Tenho que respeitar os companheiros que precisam de mim, os torcedores que compram ingresso, e faço o melhor.
A luta dele pela vida é algo que te dá força para superar essa adversidade também?
Com certeza. Vejo as coisas que fazem com ele na idade que tem, a força que mostra para mim, e tenho que continuar. Por isso, falo que uma dor de tornozelo não é nada em comparação com o que ele está sofrendo. Eu nunca imaginei ter um filho tão forte quanto ele. É cada coisa que ele passa e briga pela vida. Não posso ficar chorando. Ele está nas mãos dos médicos e de Deus. Trabalho por ele.
O apoio do povo mineiro e brasileiro pode te fazer ficar mais tempo no Brasil, no Cruzeiro...
Com certeza. Sempre falo brincando com minha mulher que daqui a pouco vou virar o pai do Santino, não será mais Santino filho do Montillo. Para mim, isso tudo é muito especial. Onde vou, me perguntam como está meu filho. É algo que não posso pagar com dinheiro, é algo que sai das pessoas. Assim como a faixa da Universidad de Chile, o estádio todo cantando o nome de Santino. É algo que nunca vou esquecer. Está tudo guardado para ele assistir quando estiver grande.
Queria que você falasse também sobre a Copa de 2014. Viver aqui no Brasil, sentir toda essa atmosfera, o faz ter ainda mais desejo de participar?
Jogar um Mundial é um sonho. Disputei o Sub-20 e foi uma das melhores experiências da carreira, depois dessa agora que foi atuar pela seleção principal. É o sonho de todo jogador. Sei que é muito difícil, mas não posso deixar de sonhar. Tenho que seguir trabalhando e buscar sempre times grandes. Não é por isso que vou jogar, mas fica mais fácil. É um caminho longo.
Você tem uma história muito curta como profissional na Argentina, foram poucos anos no San Lorenzo. Se sente em dívida por isso? Tem o desejo de voltar e triunfar no seu país?
Montillo na temporada
Jogos: 48 (de 55 do Cruzeiro)
Gols pelo Mineiro: 6
Gols pela Libertadores: 3
Gols pelo Brasileiro: 12
Não fico pensando nisso. Passei pela Argentina, tive momentos bons, momentos ruins, outros que não joguei, mas aprendi muito ao longo da carreira. Com certeza, se eu não jogava quando estava lá, alguma coisa eu fiz errado. Ou não estava bem ou não fazia o que o treinador pedia. Nunca vou achar que o problema não era meu. Com certeza era. Na Universidad de Chile, aprendi muito, joguei quase todas as partidas e aqui sigo aprendendo. Disputo um futebol muito competitivo e consegui um nome de forma rápida. Quando cheguei, tinha um certo medo. São tantos grandes jogadores... Por sorte, deu tudo certo.
Se você encerrar a carreira sem voltar a jogar lá, então, não fará falta?
Não. Às vezes, temos que procurar as coisas fora do país. Em determinados momentos, na Argentina alguns não conseguem jogar por algum motivo. Muitas coisas acontecem. Foi assim com muitos jogadores. Um exemplo é o Darío Conca, que atuou pouco lá e aqui foi o melhor do torneio com merecimento. O estilo pode encaixar melhor em outro time. Foi assim com ele, comigo... Não penso que é preciso voltar para mostrar algo. Messi não jogou nunca na Argentina e é difícil que jogue, a não ser que tenha vontade de atuar por algum time específico. Jogando só fora, ele é tudo que é.
E suas referências no tempo em que viveu em seu país?
Sempre olhei muito para Pablo Aimar. Gosto muito do jeito dele. Perdi um pouco o contato por estar no Benfica e não passar tantos jogos na televisão, mas vejo os gols. Na época do River, eu era mais novo e observava muito. É um cara que olha sempre para frente, deixa o companheiro sozinho para marcar os gols. É um dos mais técnicos que conheço.

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